Resenha de ‘Veja Bem, Caralho’, da banda Perturba feita, por Buli, baterista da banda Os Valetes, de Vinhedo/SP e jornalista nas horas vagas...
Veja bem, caralho:
Tem Rock nacional de qualidade sim!
Novo trabalho da banda
Perturba, grupo de Punk Rock de Várzea Paulista, traz porradas para
bate-cabeças e ‘hits’ para embalar a noite
Por Buli
O novo trabalho da banda PERTURBA vem, para mais uma vez,
deixar bastante claro: Veja bem, caralho, existem bandas de Rock nacional de
qualidade sim. E, se a cultura cover do mercado de shows não fosse tão
massificada e consumida ouvido adentro de cérebros carentes de oxigenação
musical, essas linhas sobre uma obra musical independente não estariam sendo
escritas no ‘underground’, e sim, em destaque nacional.
Porque é o que a iniciativa merece. Quando um conjunto, como
o inquieto quarteto de Várzea Paulista, e outros autorais independentes da
região e do País realizam, por conta própria, uma arte dessas, já há de se ter
e conferir muitos méritos independente do estilo e gênero. Mas, quando o
trabalho, além do processo todo de lançamento, é muito bom, cabem não só
méritos como também aplausos. E no caso do Perturba, chacoalhadas de cabeça,
abuso de volume nos ouvidos e chutes no sofá.
Após 5 anos de uma trajetória pelo underground do Rock na
região de Jundiaí conquistando um carisma raro de ser ver, esses ‘punks
cachaceiros’ lançaram um trabalho conciso e muito bem feito pela proposta.
‘Veja bem, caralho’ traz faixas que caminham muito bem entre porradas violentas
punks hardcore com músicas que tornam ‘hits’ imediatos, ao menos na cabeça de
quem escuta.
Assim, sob o comando da guitarra vigorosa de Dulino – que
descarrega todo o vigor urgente do grupo em uma massa sonora irresistivelmente
empolgante, a bateria implacável do mordaz Fábio Xéca – que após esse CD não
poderá trabalhar em nenhum restaurante por conta da quebradeira sem dó de
pratos, o baixo bastante conciso de Xuxu – que somou muito ao som do quarteto e
o vocal competente de Jadi – que de baixista, com a saída de Wagão (o lendário
hippie-punk trovador que ainda tem suas marcas na banda), virou vocalista e
mostrou que está dando conta do recado muito bem.
Enfim, se qualquer entusiasta que adora ir em AC/DCs cover,
Metallicas cover ou Chitãozinho & Xororós cover, aquele que não perde a
oportunidade de pagar o que for pra ouvir mais do mesmo sempre, se dispuser a
abrir um pouco a mente e ouvir este álbum, possivelmente verá que música
autoral também é boa e, indiscutivelmente, é o novo, é o atual, é o genuíno.
1,2,3,4! 4 linhas
sobre cada faixa de ‘Veja bem, caralho’:
Bar do Eurico:
O som mais pesado da
banda até então. Logo após a intro, palhetando na cara o motivo a que vieram.
Um ode bravo e caótico àquele momento em que o álcool já te tirou o 'direito'
de andar reto ao desgrudar do balcão do bar! Enquanto Fábio Xeca espanca a
caixa, espanca-se o botão de play dessa porrada de novo. Ótimo trabalho de
divisão das frases e vocalização dos ‘backings’.
Desandado:
Mais cadenciado, o
som de Desandado segue com a temática que se tornou intrínseca ao Perturba: A
cultura do bar e loucura noite a dentro. E assim, como em outras faixas do
grupo como ‘A Grama do Vizinho’ e ‘Cataratas num Barril’, critica a velha
desocupação de terceiros em querer cuidar da vida alheia. É um dos ‘hits
loucos’ do CD.
Giroflex:
Clima mais tenso,
tipo o escuro do subúrbio – cortesia da interação de efeitos da guitarra de
Dulino e o baixo de Xuxu. Nessa fica explícita uma veia mais grunge da banda
com versos graves baixos e refrões altos e explosivos. A letra traz versos
quase góticos em referência, mais uma vez, a noites loucas e perdidas.
Aniversário de Quem?:
Se Bar do Eurico é a
porrada na cara , essa é, sem sombra de dúvidas, o grande ‘hit’. Logo de início
o riff da guitarra é pra chamar a confusão. E a banda vem junto no ritmo. Com
refrão altamente chiclete, não tem como não cantar junto, chutar a cadeira e,
como na muito bem sacada letra, querer se perder até se encontrar. É pra tocar
na rádio – e no mangue – se não tocar, já é hino jovem.
Humilde Morador de Rua:
Wagão pode ter
deixado o Perturba. Mas o Perturba não deixa o primeiro vocalista, trovador de
Várzea e região. A loucura poética do carismático letrista dessa faixa está
explícita aqui. E junto à banda foi relatada, com propriedade, uma visão social
da situação de moradores de rua, e, como frisa o refrão, não mendigos, mas
aqueles que vivem sob o sereno da lua e tem como amigos os cachorros da rua.
Ser Iguais:
Fúria e velocidade
em uma das faixas mais politizadas da banda que mostra que não só canta só
sobre bar, cachaça e ressaca. Como legítimos representantes do Rock nacional a
contestação se faz presente também. Além deste perfil, aqui a banda explicita
também uma proximidade muito bem-vinda e apresentada com os Ratos de Porão.
Coitado de quem cair na roda durante essa música.
Jogando Bosta no
Ventilador:
Excelente expressão e interpretação vocal de Jadi. Aqui a
banda detona aquele sentimento de revolta e repúdio com a politicagem nacional,
mantida pela ‘burrocracia’. E quando ao situação fica insuportável, a coisa
toda fede, fede tanto que Jogando Bosta no Ventilador acaba sendo uma ótima
forma de expressar tudo isso.
Por quê:
Aqui a guitarra de Dulino, talvez ainda mais do que em
outras faixas ao longo do álbum, está ardendo forte nos ouvidos. Cortesia
também do excelente trabalho de estúdio feito por Chapola, já que guitarra na
cara é uma das características da sua produção. Esta faixa é marcada também
pela vocalização e letra sarcásticas. Punk Rock na sua literal tradução.
Não Podemos Falar:
Não falei que tinha boa dose dos Ratos de Porão nessa porra?
Prova turbinante disso é o destruidor cover dos próprios – uma das bandas
pioneiras do Punk Rock nacional e até hoje em atividade. Aqui, a banda volta
fulminante com muito vigor, velocidade, peso e caos sonoro. Coitado de quem
continuar caindo na roda quando tocarem essa ao vivo.
Papai Noião:
Talvez não seja fácil entender, mas nessa faixa há a letra
com o maior cunho social do álbum. Lançada como um dos ‘singles’ do CD, traz a
figura do Papai Noel para o contexto suburbano dentro de uma família real, não
idealizada, algo como ‘We’re a Happy Family’, dos Ramones. A paródia da melodia
musical natalina feita entre 1:25 e 1:35 da música é genial.
(Adendo: Até que se prove o contrário, é, provavelmente, o
único Punk Rock que fala ‘calipal’ na letra)
Veja bem, Caralho:
Bem-humorada, a faixa-título é uma homenagem a um ‘figura’
muito especial na história da banda. E, quem diria, inspirou a composição de
uma música para cima em que o grupo bebe, ‘Perturbamente’ falando, do seu
‘corotinho’ de Toy Dolls. Com efeitos muito bem produzidos, destaca-se também
pela levada de ‘cantoria de bêbado’.
Cataratas num Barril:
Mais uma vez com intros e efeitos bem sacados e
competentemente produzidos vem a faixa de encerramento: na muqueta e no grito
de Jadi. Isso porque aqui a revolta retorna e combina de forma impressionante a
autenticidade entre aquela ideia de ‘cada um na sua’ e um episódio do Pica-Pau.
Merecidamente ganhou um clipe, pois está entre as minhas 4 preferidas do CD.
Link para baixar o disco do PERTURBA:
Buli é baterista da banda OS VALETES: